Archive for the ‘Fé cristã’ Category

MAIO, MÊS DE MARIA, MÊS DAS MÃES…

03/05/2011

A Mãe de Deus no Trono com Jesus e os dois anjos - Igreja da Transfiguração - Romênia.

           Maio é mês do outono, estação de romance, climas amenos e aconchegantes, menos chuvas, dias de sol com céu azul e vento fresco à tarde. É o mês em que acontecem homenagens e demonstrações de muito carinho e afeto às mães. O segundo domingo de maio marca um dia muito especial: Dia das Mães. No Brasil, quem definiu essa data foi o presidente Getúlio Vargas através de um decreto em 1932. A origem do Dia das Mães aconteceu na Grécia Antiga, segundo alguns historiadores. Os gregos prestavam homenagens à deusa Réia, mãe comum de todos os seres. Neste dia, os gregos faziam ofertas, oferecendo presentes, além de prestarem homenagens à deusa.
          Os romanos, que seguiam uma religião muita parecida com a grega, também faziam este tipo de celebração. Em Roma, durava cerca de três dias. Também eram realizadas festas em homenagem à Cibele, mãe dos deuses. Porém, a comemoração tomou um caráter cristão nos primórdios do cristianismo. Tornou-se uma celebração realizada em homenagem à Virgem Maria, a Mãe de Jesus.
          Dessa forma, a cada ano, no mês de maio, tem-se a oportunidade de redescobrir o valor de Maria, Mãe de Deus, refletido em cada uma de nossas mães, outras Marias que colaboraram e continuarão a colaborar com Deus, trazendo ao mundo seus filhos amados, contribuindo humanamente naquilo que é divino: o dom da vida, o dom de gerar filhos.
          Tendo uma ligação bastante próxima com o cristianismo, neste período, se é particularmente chamado a refletir sobre a presença de Maria Mãe de Jesus na vida de cada mulher.
          Maria, no Antigo Testamento, é preanunciada em sua presença e missão já no livro do Gênesis quando Deus fala que uma mulher “calcaria a cabeça da serpente” vencendo o mal (Gn 3,15). Isaías a anuncia como a “virgem que nos traria o Salvador da humanidade” (Is 7,14). No Novo Testamento é o próprio Deus, que através do anjo Gabriel a saúda, dizendo: “Ave cheia de graça, o Senhor está contigo, bendito é o fruto do teu ventre” (Lc 1,28). Isabel a reconhece como Mãe do Salvador. “Donde me vem a honra de receber a Mãe de meu Salvador?” (Lc 1,43), da mesma forma como profetiza que Maria “seria a bendita de todas as gerações” (Lc 1,48). Maria não é apenas a Mãe de um homem, nascido de mulher, mas a Mãe do Filho de Deus, nosso único Salvador e Redentor.
          Partindo das evidências da fé, as mães hoje, têm, igualmente, a grande missão de gerar e educar seus filhos, como Maria. As Marias de hoje também acompanham seus filhos ao longo da vida, da gestação, do desenvolvimento… Muitas acompanham os diversos momentos de alegria e sucesso na vida dos filhos; outras choram o fruto do seu ventre no universo das desgraças e atrocidades: vícios, drogas, roubos, violência humana… Filhos são violentados hoje, cruelmente, pelos Sistemas que oprimem, destacando-se o sádico desemprego, sob os olhos das mães, que sofrem a dor da espada do século XXI transpassada no peito materno, da mesma forma como Maria sofreu aos pés da cruz, a condenação do seu Filho inocente.
          Pobre será a recompensa dos filhos por tudo o que tantas mães fizeram. Mas, na passagem do mês dedicado a elas, um especial carinho a cada uma: mães biológicas, mães adotivas, mães espirituais, mães que repetem o gesto de Maria pela Igreja, zelosas, acolhedoras, catequistas em nossas comunidades. Presença feminina, dádiva, manifestação viva e encarnada no tempo, da ternura de Deus. E como diz a canção, parafraseando Isaías: “A mãe será capaz de se esquecer ou deixar de amar algum dos filhos que gerou? E se existir acaso tal mulher, Deus se lembrará de nós em seu amor”. Feliz dia das Mães!

 Rafael Uliano

 

AS MOTIVAÇÕES PARA O ECUMENISMO HOJE…

29/04/2011

Conferência Missionária Mundial de 1910, em Edimburg, início do ecumenismo moderno

          Inspirado no Evangelho de São João (17, 21) “que todos sejam um”, como motivação, parte-se do princípio de que o ecumenismo é, antes de mais nada, uma atitude de fé: sem fé não há uma prática ecumênica consistente. E mais, só existe busca de reconciliação onde existe desarmonia. Trata-se de um movimento de originalidade sem precedentes, que nasce como um fenômeno social (na base) fazendo com que a Igreja saia de seus limites institucionais. Depois, apresenta-se numa fase de institucionalização, onde entram as lideranças eclesiásticas, os teólogos (anteriormente vislumbrava-se pura e simplesmente uma aspiração de base). O efeito a que se chegou hoje, de institucionalização, talvez não expresse o desejo dos pioneiros do movimento ecumênico, mas configura o ecumenismo hoje, pois houve desvinculação da carga utópica e social e limitou-se a conflitos eclesiais.
          Muito sinteticamente, pode-se dizer que houve uma evolução semântica do termo ecumenismo: do eclesiástico, do político, passa-se à unidade dos cristãos.
          Para que aconteça o ecumenismo, hodiernamente são necessárias três atitudes motivacionais fundamentais e também de conversão: a) do coração (ecumenismo da caridade); b) da inteligência (diálogo doutrinal); c) confessional (atos eclesiais de reconciliação).
          Ser ecumênico não é ser um expositor de idéias, trata-se de um espírito dialogal (interpretação de si e escuta do outro), da formação de uma cosmovisão ética, formando uma vida de comunhão. Como católicos, é necessário que sejamos cristãos-católicos-ecumênicos e não cristãos, católicos e ecumênicos.
          Pode-se dizer que é urgente, hoje, para que aconteça um verdadeiro diálogo (caminhar juntos na verdade), convicção acerca dele (serviço à Igreja para que realize sua natureza de comunhão), conhecer a história e a doutrina dos irmãos na fé em outras Igrejas, rever o pensamento teológico, a espiritualidade, a ação pastoral, estar em sintonia com o movimento ecumênico…
          Navegando pela história, percebem-se dificuldades de longas datas. A primeira grande divisão, segundo HORTAL (1989), foi no século V, quando os Patriarcados de Alexandria, Antioquia e Jerusalém não aceitaram as decisões do Concílio de Calcedônia (451) e formaram o cisma monofisita.  Depois, no século IX, a crise do Patriarca Fócio aparece quando ele, junto com os teólogos, se opõe à inclusão do Filioque no Credo e, principalmente, rejeitando a interferência romana na eleição patriarcal, causando ruptura. No ano 1054, se dá a ruptura definitiva entre as Igreja do oriente e do ocidente. Essa se deu, basicamente, por diferença na autoridade. Num gesto bastante marcante, no encontro em 1965 Paulo VI e Atenágoras I de Constantinopla retiraram as sentenças de excomunhão.
          Passos significativos foram sendo dados ao longo da história: reflexão teológica, espiritualidade e organismos fizeram com que o Concílio Vaticano II emanasse o Decreto “Unitatis Redintegratio” (1964) que traça caminhos de como fazer o ecumenismo (renovação, oração, conhecimento mútuo, formação, modos de exprimir a doutrina, cooperação…) católico.
          Hoje, segundo WOLFF (2002), o ecumenismo no Brasil é fato e alguns resultados já são colhidos, como o reconhecimento entre as Igrejas em diálogo, se reconhecendo como rosto de irmãos. São diferentes, mas da família cristã. A fraternidade foi reencontrada e também o respeito mútuo, voltando-se a valorizar o outro. Também o reconhecimento mútuo do batismo demonstra fortemente a convergência na doutrina cristã entre as Igrejas. Destacam-se também como frutos a espiritualidade comum entre as Igrejas e o mútuo apreço entre as lideranças maiores dessas.
          Por fim, vale dizer aquilo que já fora afirmado por Nathan Söderblom, Presidente do Conselho Mundial de Igrejas: “A doutrina divide, a ação une”. Da mesma forma, relembrar o episódio de 1949, quando Pio XII rejeitou um convite, mas depois, o Santo Ofício publicou a Instrução De Motione Oecumenica, destacando que o Movimento (dinamismo) Ecumênico é fruto do Espírito Santo, ou seja, é também uma necessidade da Igreja e não gosto ou opção pessoal.

Rafael Uliano

PARA A PASTORAL, IMPORTA O CÓDIGO DE DIREITO CANÔNICO?

11/04/2011

          Muito se discute acerca de legislação e carisma. Será que a lei é um impedimento à vitalidade dos carismas? É sabido que uma comunidade sem leis, normas é uma comunidade sem organização e que, conseqüentemente, não possui respeito pelo mínimo direito de si mesma e pelos direitos dos outros.
         Debruçar-se nos estudos acerca do Direito Canônico é de suma importância, pois, neste campo, não basta tentar adivinhar, é necessário estudar para conhecer o conteúdo da legislação. Muitos que trabalham nos Tribunais Eclesiásticos têm a prática, mas nem sempre possuem o devido título exigido para exercer a sua missão. Contudo, não há dúvidas de que o principal na vida do cristão é a vivência do Evangelho encarnado na vida e o seu conseqüente anúncio ao mundo. Não obstante, todo grupo tem necessidade de organização e a Igreja o faz por meio do Código de Direito Canônico, além das demais orientações e normas emanadas de acordo com as necessidades de esclarecimentos ou rumos a serem tomados.
         Sem querer jamais suplantar a ação d’Aquele que governa, “dia e noite sem cessar”, a ciência canônica tem passado por uma redescoberta do seu real valor, ocupando o lugar que lhe cabe não apenas nas cátedras, mas, sobretudo, na vida pastoral.
         O Tribunal Eclesiástico, numa diocese, num Regional é um instrumento de perdão e de solidariedade. Não há Justiça sem misericórdia: “a justiça de Deus está manifestada mediante a fé em Jesus Cristo” (Rm 3,21-22). Afirmou também Santo Agostinho: “Se a justiça é a virtude que distribui a cada um o que é seu […] não é justiça do homem aquela que subtrai o homem ao verdadeiro Deus” (De civitate Dei, XIX, 21). A missão pastoral da Igreja requer que sua missão judicial também tenha a finalidade de realizar o encontro do homem com Deus. O Tribunal Eclesiástico exerce o poder de julgar e libertar a consciência.
         É lamentável, porém, a escassez de pessoal competente, sejam eclesiásticos, sejam leigos, para enfrentar o número cada vez maior de casais que, após a “falência” do próprio casamento, pedem à Igreja que declare, após análise, a nulidade daquele matrimônio. Lastimoso também é o fato de muitos casais desconhecerem essa possibilidade de recorrer e quais passos dar.
         O juiz de primeira instância num Tribunal Eclesiástico é o (Arce)Bispo ou o Vigário Judicial. Sua tarefa é verificar a verdade objetiva dos fatos e aplicar fielmente a lei nos casos concretamente tratados. Este precisa ser alguém que prime pela celeridade nos atos processuais, seja cordato e amigo dos sacerdotes, que procure distribuir a Justiça sempre em íntima sintonia com o seu (Arce)Bispo e com todos os bispos que fazem parte do Tribunal Eclesiástico, se este for interdiocesano ou regional. Deve ser alguém que na confiança do ministério do (Arce)Bispo diocesano veja em cada fiel que bate à porta do Tribunal Eclesiástico aquele homem ou aquela mulher que confia na Justiça de Deus e da Igreja para resolver situações penosas e difíceis na sua vida.
         Pobre será a recompensa dos homens por tudo o que tantos homens de Igreja fizeram pelo ressurgimento do Direito, mas, sem sombra de dúvida, a recompensa de Deus, na sua Igreja, chegará a seu devido tempo, no kairós que a Ele pertence.
         Paralelamente ao Livro que contém os documentos do Concílio Vaticano II, dispõe-se do Código de Direito Canônico, uma combinação bastante válida e significativa (João Paulo II, Apresentação Oficial do novo CIC, 1983).
         Dado o fato que o Código de Direito Canônico traça a regra necessária a fim de que o povo de Deus possa orientar-se de maneira eficaz para a sua própria meta, compreende-se que tal direito deve ser amado e observado por todos os fiéis.
         O Cardeal Francis Xavier Van Thuan, em seu livro “O caminho da Esperança – as mil e uma noites” escreveu uma frase que resume bem a necessidade intrínseca e o valor do Direito na Igreja:

“A Igreja está inserida na sociedade deste mundo, razão pela qual necessita também de uma organização humana. Por isso, um ato de desobediência causa uma ferida na vida da Igreja, justamente como no corpo humano uma célula ou uma veia que não ficam no  seu devido lugar provocam dor em todo o organismo”.  

         Que sob a proteção da Beatíssima Virgem Maria, Mãe da Igreja, se promova mais e mais a salvação das almas, pede o Código. 

 

Rafael Uliano 

 

 

(FONTE: Aula Inaugural do Pontifício Instituto de Direito Canônico do RJ – 2010, proferida por Dom Orani João Tempesta – Arcebispo Metropolitano do Rio de Janeiro, com adaptações e acréscimos).

APRESENTAÇÃO DO MENINO JESUS NO TEMPLO

02/02/2011

Apresentação no Templo - Santuário Saúde dos Enfermos - Vicenza

Sobe a Jerusalém, Virgem oferente sem igual.
Vai apresenta ao Pai, teu Menino: Luz que chegou no Natal.
E, junto à sua cruz, quando Deus morrer ficou de pé.
Sim, Ele te salvou, mas o ofereceste por nós com toda fé.

Nós vamos renovar este sacrifício de Jesus:
Morte e Ressurreição, vida que brotou de Sua oferta na cruz.
Mãe, vem nos ensinar a fazer da vida uma oblação.
Culto agradável a Deus é fazer a oferta do próprio coração.

DEUS ASSUME UM GRANDE RISCO – ELE SE PÕE EM NOSSAS MÃOS!

17/12/2010

José, Jesus e Maria

          Diante do nascimento do menino Jesus, na gruta de Belém, Deus revela que não se interessa por prestígio, poder, nem faz questão alguma de ser tido como poderoso (cf. Fl 2,5-8). 
         O Altíssimo manifestou-se como criança para compreendermos que os seus caminhos são aqueles do amor e ternura. Jesus foi enviado pelo Pai como uma criança para demonstrar à humanidade que Deus quer ser amado por todos, da mesma forma como os pais, irmãos e amigos dispensam amor a uma criança que nasce no coração de uma família.
         O grande exemplo de entrega humana nas mãos de Deus está no fato de que, em Jesus Cristo, Deus também se entrega aos seres humanos, e dessa maneira, está totalmente sujeito ao agir e às decisões das pessoas. Ao nascer, Jesus fica aos cuidados de humanos, assim como qualquer criança, entregando-se e assumindo o risco de que essa sua confiança possa ser traída.
         Pelo fato de os homens terem traído, tirado a vida do Filho de Deus, Ele não deseja que o temamos como vingativo, mas ao contrário, o amemos. O grande momento do Natal que reviveremos é o fato concreto de que Deus não nos quer intimidar. Através de nossos bispos e padres, Jesus renasce em cada celebração Eucarística. É Deus que espera que o amemos cada vez mais. Por isso Jesus apresenta-se como uma criança: se fosse apresentado como um rei, todos teriam receio de chegar perto d’Ele. 
         Um Deus que se apresenta na forma de uma criança, pode ser muito amado, mas também pode ser rejeitado e pisado. Ao invés de amarmos o Deus menino, indefeso, também é possível jogá-lo no chão, pisar e até matá-lo, como é comum ver atitudes de pais desvairados que cometem esse tipo de atrocidade. Deus, manifestando-se na carne humana, apresenta desafios, e um deles, propício para nosso tempo, é fazer às pessoas tudo aquilo que se gostaria de fazer a Ele. Este é o ponto chave da realidade natalina, que muitas vezes, no decorrer da história, foi esquecido.
         Levando a sério o que é revelado no Natal, com certeza se passará a trabalhar para a construção comunitária do Reino de Deus, sendo cada pessoa colaboradora para que as ações de Deus possam ser difundidas e implantadas.

 Rafael Uliano

JESUS É O ESPERADO

03/12/2010

 

Anunciação - Capela Nunciatura Apostólica - Paris

          Segue-se na reta final de mais um ano. Os estudantes alegram-se com o início das férias, a maioria dos trabalhadores também com um tempo de descanso, ou então, preocupam-se com os trabalhos excessivos do final do ano. A dona de casa lava as paredes, as janelas, a cerca, monta a árvore de Natal e o presépio. Tudo isso, se trata de uma preparação para alguma coisa especial que vai acontecer, o Natal: a celebração do nascimento de Jesus. É a glória do Céu que se manifesta no Filho unigênito de Deus que desceu dos céus e pela ação do Espírito Santo encarnou-se no seio da virgem Maria, pelos homens e para a salvação destes.
         Mas Ele nasceu há mais de dois mil anos, como, dizer que Ele vem para salvar a humanidade? Para Deus não existe tempo cronológico, tudo é eternidade. Deus não se utiliza de calendário, relógio… Tudo é perene e por isso, reafirma-se, é eterno.
         Todas as ocasiões humanas precisam ser preparadas. Da mesma forma para o Natal, a vinda de Jesus exige preparação pessoal, de modo que cada um abra-se à experiência da vida nova e não apenas comemore uma data comercial. Jesus, no Natal, é esperado por muita gente. O tempo do advento conduz todos, a essa expectativa. Contudo, a cada ano faz-se necessário, incutir na idéia de muitos, que o Natal é o nascimento do menino Jesus, e não um tempo de “promoção da figura do Papai Noel”. É claro, as crianças ficam eufóricas aguardando as lembranças que receberão no Natal, porém é importante que a pessoa que oferece o presente, sinta-se também na obrigação de dar um presente a Jesus, afinal de contas é Ele o aniversariante – e quase sempre isso não é percebido. E qual o melhor presente que se pode oferecer a Jesus? Evidente que é destacar que Ele é o principal foco neste tempo e ajudando um irmão, estar-se-á presenteando o próprio Jesus. Natal é tempo de solidariedade. 
         É importante dispor-se de um local de destaque, em casa, onde fique exposto o cenário e personagens do presépio. Diante dele é possível fazer uma bela catequese com todos os integrantes da família. Procure refletir sobre isso neste tempo do advento, o tempo da preparação, da espera, da vigilância; talvez, reviver toda a história da salvação, através da montagem do presépio seja um excelente exercício de preparação próxima para o Natal do Senhor.
         As luzes que são colocadas nas vitrines, nas casas, nos edifícios trazem em si, um significado muito bonito. Elas devem lembrar que dentro de cada pessoa, também deve brilhar um novo clarão, afinal, com o nascimento de Jesus, tudo recomeça, e assim, inicia-se um tempo novo, de luz, de libertação para todos, um tempo em que Deus sonha o ser humano, utilizando-se do humano (Maria) para trazer ao mundo o ser humano mais perfeito: Jesus – o amor de Deus pelos homens!

Rafael Uliano

PENSAR O AMOR, A CASTIDADE E O CELIBATO

26/11/2010

               

A Esposa do Poeta - Arturo Martini

               Acompanhamos nos últimos anos, notícias que traziam à tona denúncias contra padres, bispos, religioso(a)s, pais de família, professores… As denúncias eram acusações que aos poucos foram pipocando mundo a fora, inclusive no Brasil.

                O papa Bento XVI, em sua Carta pastoral aos católicos da Irlanda, ressaltou que “o problema do abuso dos menores não é específico nem da Irlanda nem da Igreja”. A Igreja não nega em seu corpo essa chaga aberta; também não pode simplesmente deixar-se criticar de maneira infundada… A verdade deve ser evidenciada, e as inverdades denunciadas. Com essa intenção, foi divulgado no Jornal do Vaticano L’Osservatore Romano (25/03/2010) que “há uma tendência prevalecendo na mídia, de ignorar os fatos e fazer interpretações, com o objetivo de espalhar a imagem da Igreja Católica como a única responsável por abusos sexuais, algo que não corresponde à realidade”. E porque não corresponde à realidade? Procure por tantos outros dados disponíveis hoje na internet: existiram na Alemanha, desde 1995, 210 mil denúncias de abusos a menores. Dessas, 300 envolviam padres católicos. Ou seja, menos de 0,2%. Trata-se de um único exemplo, mas a proporção é questionadora. Evidente que um só caso já seria gravíssimo. O problema é a generalização.

                Nossa intenção não é fazer uma análise de dados. A finalidade a que se quer chegar, parte do dado anteriormente citado, sim, de modo a discutir acerca da vivência da sexualidade humana em diversos aspectos: amor, castidade, celibato. São temas que não serão exaustivamente explorados, mas rapidamente refletidos. A pretensão é provocar uma reflexão posterior mais aprofundada.

 Amor

                Conversando-se, hoje, com pessoas idosas, ouvem-se relatos de que há algumas décadas o amor era de tal modo vivo que, aqueles que se amavam, chegavam a subir em árvores e muros para ver o amado. Não cabe aqui julgar se o amor hoje é melhor ou pior que o de outrora, mas dizer que hoje existe aquilo que se chama de “ruído” nas relações afetivas. Na modernidade, a questão é: fazer sexo ou ser feliz no exercício da sexualidade, num encontro amoroso? Há alguns anos, o amor romântico era incentivado, hoje é a banalidade dos corpos que fala mais alto. É muito perigoso acreditar que não é possível construir relações sexuais e afetivas duradouras. Talvez para muitos casais a vida hoje esteja chata, sem sentido, sem o elã que se possuía nos velhos tempos de namoro. A causa desse desencantamento pode estar relacionada com a infelicidade na vivência da sexualidade como um todo. É comum, nas rodas de amigos, conversar-se sobre sexo como sendo apenas um objeto a ser explorado. Um objeto que proporciona prazer e ponto final. Houve uma inversão de eixo, no tocante ao namoro com vistas ao matrimônio, passando à esfera do corpo como mercadoria. Na era dos descartáveis, lá se vão, corpos e corpos, para o lixo moral. O amor torna-se egoísta, individualista… Cadê o verdadeiro amor? Uma casa construída com cimento de péssima qualidade, certamente desabará… Um casamento contraído sem verdadeiro amor também não será duradouro. Amar é uma decisão: decidir-se por pensar no outro, antes mesmo de pensar em si próprio. Os relacionamentos descartáveis podem ser configurados como amor?

 Castidade

               É comum pensar: casto é aquele que não mantém relações sexuais. Não está errado, porém, o conceito é mais do que isso, pois todo casal é convidado a viver a castidade dentro do matrimônio. É possível? Sim. É fácil? Não. A carne é fragilíssima e viver a castidade exige muitas opções que por sua vez levam a renúncias, fazendo com que o pensamento primeiro seja sempre no cônjuge e não em si.

               A castidade não é apenas o não uso do órgão genital, mas é a consciência, a qualidade de relacionamentos entre um homem e uma mulher, capazes de uma sadia convivência. Uma vida casta é uma vida exemplar. A vivência sexual na vida de um casal, não é algo pecaminoso… É o ápice da vivência do amor-doação. O ato sexual é o meio pelo qual as pessoas colaboram com Deus em seu plano criador. A vida sexual do casal é bonita e importante para que marido e mulher se complementem e sejam felizes. O despreparo nesse campo leva muitos casais à separação, donde a necessidade da castidade matrimonial. Observando o sexo como puro meio de prazer, as dimensões unitiva e procriativa perdem todo o sentido.

               São Paulo diz: “Cumpra o marido o seu dever conjugal para com a esposa, e a esposa, do mesmo modo, para com o marido. Não é a mulher que dispõe de seu corpo, mas o seu marido. Do mesmo modo, não é o marido que dispõe de seu corpo, mas a sua mulher. Não vos recuseis um ao outro, a não ser de comum acordo e por algum tempo, para vos entregardes à oração. Voltai depois à convivência normal, para que Satanás não vos tente, por vossa falta de domínio próprio” (1 Cor 7,3-5).

               Na realidade dos padres ocidentais, estes não se casam não para conotar que o sacerdote não deve perder sua pureza (de novo a idéia de que o sexo é impuro, indecente, pecaminoso), mas com o celibato dos sacerdotes, afirma-se claramente a beleza que é a vida sexual entre homem e mulher. Ser casto, para os padres, é renunciar a este prazer, a esta beleza divina… A conseqüente renúncia da opção pelo celibato, só tem sentido quando se renuncia a algo que é muito bom. Afinal de contas, não optar por algo que não seja bom não se trataria de renúncia, mas de astúcia.

 Celibato

               O Celibato (do latim cælibatus significa “não casado”). Para os padres orientais a norma é que se opte pelo casamento ou celibato antes da ordenação.

               Nos últimos tempos, a Igreja católica ocidental (de rito latino) vem sofrendo algumas pressões para o fim, ou pelo menos a possibilidade de escolha do celibato, para o seu clero. Não pense você que esta mentalidade é uma luta pelo padre casado, simplesmente. O casamento supõe castidade cristã, supõe fidelidade, e isto também é complicado. A castidade não é difícil só para quem é celibatário; é um desafio para todos, inclusive para os casados. Um diálogo entre um jovem leigo e um padre jovem: “padre, não sei como você agüenta o celibato”, ao que o padre respondeu: “não sei como você agüenta a castidade no casamento, pois ela é dura e difícil”. Celibato é um carisma. Para se entender um carisma é necessário ter fé. A diminuição de candidatos ao sacerdócio e à vida religiosa parece não girar em torno do celibato, mas sim, da falta de fé – que é a raiz do problema.

               Se o padre não tem uma mulher para amar, o que ele amará? A Deus, ao povo e o presbitério (amor aos padres e ao bispo). São os três lugares privilegiados nos quais o padre ama. Parece coisa de outro mundo? Parece impossível? Talvez sim, para quem não tem fé!

               O fato de o padre ocidental não ter filhos (paternidade carnal/física) não significa uma vida de infertilidade: essa opção pelo celibato no estrito sentido do termo, conseqüentemente de não ter filhos biológicos, significa uma verdadeira vida como sementeira fecunda da paternidade espiritual – que deve ser o foco central do ministro ordenado.

               É errado afirmar que a juventude atual não aprecie mais o celibato, a castidade… É apreciada e de modo muito especial quando essa vida de renúncias desemboca na prática e doação total às pessoas, principalmente para com os pobres. Disse a russa Catarina de Hueck Doherty (Fundadora do Apostolado Leigo Madonna House): “receio que a diminuição do número de moços que escolhem o sacerdócio aconteça por não verem testemunhos eloqüentes de amor e doação em seus próprios pastores”.

 

Rafael Uliano

O MODELO DE JESUS

19/11/2010

Cristo e os discípulos de Emaús - Capela do Seminário de Reggio Emília

          O seguimento faz o discípulo viver a partir dos ensinamentos de Jesus Cristo. O estilo de vida de Jesus se distinguiu por rupturas radicais. Por isso, o seguimento exige fé e confiança na Pessoa e na proposta de Jesus. Os discípulos tiveram de abandonar e romper com suas vidas. 
         São esses alguns exemplos de rupturas, exigidos ainda hoje, para o verdadeiro seguimento de Jesus:
a) do círculo familiar: quem foi chamado não tem mais direito de preferir nenhuma outra pessoa, pois Jesus é o amor maior. É preciso ter coragem para deixar tudo por causa dele.
b) da profissão: a mudança de profissão leva o discípulo a romper com qualquer projeto pessoal de vida, pois a partir do “e ele o seguiu”, seu projeto é o de Jesus. O seguimento exige disponibilidade total em vista da missão.
c) despojamento dos bens: quem segue Jesus adota um gênero de existência marcada pela insegurança nas coisas materiais, apoiando-se na providência divina, confiando radical e absolutamente em Deus.
d) a renúncia à própria vida: trata-se do abandono  total de si mesmo, o esvaziamento radical subjetivo para poder assumir aquilo que é objetivo, a vida de Jesus com vistas à missão do Reino de Deus. A opção fundamental deixa de ser a própria vida, para tornar-se a vida de Deus, proposta pelo seu Reino.

         Jesus é o exemplo vivo das rupturas exigidas. Ele não apenas propõe, mas se propõe em suas próprias atitudes. O seguimento de Jesus não é “festivo” nem “romântico” – de mais a mais, segui-lo é também participar de seu destino, a cruz. O discípulo deve ser e estar inteiramente livre para poder dedicar-se totalmente à missão, ao Reino de Deus. 
         O seguimento de Jesus é um ideal a ser atingido ao longo da vida pessoal e da história humana. Exige coragem para que se dê uma resposta radical e real ao chamado de Jesus Cristo: deixar tudo e O seguir. O seguimento acontece se o discípulo permanece fiel às palavras de Jesus.

Rafael Uliano

TEM SENTIDO SEGUIR JESUS?

12/11/2010

         

Dois discípulos perguntam - Mestre, onde moras - São Pio: Cripta da Igreja inferior

          O seguimento está centrado no Cristo ressuscitado e pode acontecer de duas maneiras:
a) De tipo formal: imitar o Mestre;
b) De tipo real: viver o estilo de vida do Jesus histórico, assumindo como caminho, a proposta dele: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”. Esse é o seguimento que leva a viver o estilo de vida de Jesus Cristo, ancorado em sua história de modo concreto. É viver com Cristo e em Cristo, querendo estar em Sua presença, prolongando o mais possível suas palavras. Trata-se de um sentir-se pobre, vazio e incompleto sem Cristo, de modo a não sentir-se auto-suficiente. 
         A intimidade com Cristo não deve afastar o discípulo do compromisso com a história. Essa proximidade deve criar o desejo e a vontade de transformá-la, concretizando os ensinamentos do Mestre. A intimidade com Jesus é responsável pela perseverança e superação dos obstáculos que, inevitavelmente, surgem na vida do seguidor dele.
         O seguidor de Jesus não foge do humano, mas no humano realiza a sua experiência de fé. É esse o sentido de Cristo, que se encarnou e remiu a humanidade. O mistério do homem só se torna claro verdadeiramente à luz do mistério do Verbo encarnado.
         Seguir a Jesus não é imitá-lo puramente, mas é encarnar o sentido de seus atos, palavras e gestos no contexto novo da vida e da situação atual: é a fidelidade criadora.
         O seguimento, como resposta de fé, inaugura um processo na vida do seguidor: acertar seus próprios passos com os passos de Jesus. Como? Através da convivência com o Evangelho, onde são encontradas as opções de Jesus.

Rafael Uliano

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* Convido você para acompanhar na próxima semana, a conclusão da reflexão acerca desse tema.

O SEGUIMENTO DE JESUS

08/11/2010

         

Pedro deixa as redes para seguir Jesus - Capela da Nunciatura Apostólica de Paris

         O papa Bento XVI escreveu aos seminaristas sobre a importância dos estudos durante a formação para o ministério presbiteral, de modo particular dos anos dedicados à teologia. Disse que estes, em alguns momentos e determinadas disciplinas, parecem não ter utilidade na prática pastoral. Contudo, ressaltou que o objetivo dos anos de estudos de teologia não são apenas para aprender coisas evidentemente úteis, mas para conhecer e compreender a estrutura interna da fé na sua totalidade, de modo que a mesma se torne resposta às questões dos homens que, do ponto de vista exterior, mudam de geração em geração e todavia, no fundo, permanecem os mesmos (BENTO XVI, Carta aos Seminaristas: 18 de outubro de 2010).
         Atento a este ensinamento do Papa, proponho uma reflexão acerca do tema de interesse de todo cristão: o Seguimento de Jesus Cristo que se dá a partir do conhecimento, encantamento e configuração com Ele.
         É importante estabelecer uma ponte entre a teologia e a espiritualidade, no sentido de que o estudo da teologia deve ajudar no crescimento e, como conseqüência, na vivência da fé. A prática do Seguimento deve ser esclarecida também com termos racionais, de modo a não se viver uma espiritualidade alienada e muito menos prosseguir por um caminho desconhecido.
         O Seguimento é um dos temas fortes do Novo Testamento. Ao convite de Cristo “segue-me” corresponde o “e ele o seguiu”. Jesus escolheu seus discípulos contrariando o costume judaico de que o discípulo é quem escolhia o mestre. Portanto, não há seguimento sem atitude; não há seguimento sem o convite do Mestre. É o Espírito Santo o grande responsável pelo chamamento, ou melhor, pelo movimento interior no ser humano, de modo que este experimente o toque de Deus, sinta-se chamado.

Rafael Uliano 

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* Convido você para acompanhar nas próximas duas semanas, a continuidade da reflexão acerca desse tema.